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30 agosto 2015

Caminhos - Capítulo um

30/08/2015:
Capítulo um

Era um dia frio de inverno com neve caindo desde a noite passada. O ano era 1849 e estava realmente frio e tudo o que eu queria era não ir para essa viagem. Não sei se estava certo, mas parece que até o dia queria expressar tristeza. Quase como se ele se compadecesse para com a minha aversão a tudo aquilo. Estava um pouco apertado no tílburi de minha família apesar de sermos todos magros. Creio que a sensação de aperto era definitivamente a minha vontade de não ir. Como se algo fosse acontecer.

As vezes sinto coisas assim faz parte de quem eu sou: Demétrius Berkshire primogênito de William e Marie Berkshire. Sou um jovem de vinte e um anos, magro, pálido com cabelos e olhos negros. Rosto fino e olhar mórbido. Nesse dia estava com um terno preto de veludo sem gravata e por cima um sobretudo também preto e sapatos da mesma cor. Ao meu lado minha irmã mais nova: Ana Bel Berkshire. Ela era uma menina doce e gentil, mas com uma personalidade muito forte para a sua idade (dezesseis anos). Era magricela e o rosto também era fino como o meu (esse era um traço de nosso pai).

Seus cabelos eram longos e lisos mais do que os meus e seus olhos eram verdes como uma esmeralda assim como os de nossa mãe. Trajava um vestido preto de mangas compridas. Ela era rebelde e sua mente sempre esteve à frente de seu tempo. Usava ainda um colar de prata negra. Este com um medalhão adornado com assas negras e motivos góticos. Na mão esquerda mais precisamente em o seu dedo médio tinha um anel de prata com uma safira em formato de um olho nefasto aterrador. Sim ela tinha um gosto um tanto quanto lúgubre que aliás eu também tinha.

Além de Ana Bel dentro do tílburi encontrava-se minha mãe e meu padrasto. Minha mãe Marie usava um longo vestido carmesim de mangas longas. Seu rosto era chupado como o de um maracujá. Fruto de um estres latente que era oriundo da morte de seu marido o senhor meu pai. Tinha seus quarenta e cinco anos e nunca perdera a elegância que vinha desde a sua mocidade. Era uma mulher muito distinta. Meu padrasto trajava um terno cinza escuro e gravata preta. Um homem de cabelos castanhos e nariz grande. Tinha uma barbicha no queixo e não aparentava ter cinquenta anos mesmo com os cinzas lhe aparecendo no cabelo.

Eu estava de férias do meu curso e dentro de mais um ano seria um bacharel em ciências pelo Royal College of Science. Um dos mais tradicionais da Inglaterra que sempre prezou por educação de qualidade. Era caro, mas minha família tinha posses somos donos de um grande complexo industrial em Londres. Minha mãe a senhora Marie Berkshire enviuvou a pouco mais de três anos, entretanto a um ano conheceu John Aldermaston. O senhor Aldermaston era um conceituado advogado — meu padrasto.

Homem sério e digno que honra tudo o que consegue com o suor de seu trabalho. É um bom partido. Não gostava dele e nem do fato dele de alguma forma ter ocupado o lugar de meu pai. Contudo depois de conhece-lo melhor acabei aceitando (só um pouco) ele. Bem o fato é que era um bom homem. Ele soube respeitar a dor de minha família. Essa viagem era ideia dele que sempre tentava nos distrair e alegrar. E a princípio ir de tílburi até Windsor seria uma boa ideia. Windsor era uma cidade pequena situada a sudoeste de Londres (onde morávamos), mas como disse fui acometido por um pressentimento de que algo não ia dar certo.

A viagem em si correu bem apesar de depois de algum tempo além da minha apreensão minhas pernas começaram a ficar dormentes. A neve ainda caia quando chegamos a nosso destino que era uma antiga casa de nossa propriedade só que do século passado. Descemos do veículo e o cocheiro trouxe as malas até a porta. A casa em si era bonita com dois andares feita de madeira antiga, porém forte. Era branca, mas podíamos ver a ação do tempo que deixara a tinta já um tanto amarela. Não íamos muito até aquela casa e por isso não empregamos recursos na manutenção, todavia a casa ainda estava em perfeito estado (apesar de como disse ser velha).

A casa ficava afastada do centro da cidade no meio de um pequeno bosque. O lugar era calmo e sossegado. As árvores tinham uma folhagem branca por conta da neve e as poucas folhas que não a tinham eram verdes fosco devido a neblina que tinha o lugar. Era sábado e ficaríamos ali o fim de semana todo e relaxaríamos sem a presença de ninguém. Nem mesmo dos criados. Sim teríamos que fazer as tarefas mais comuns e corriqueiras e honestamente não seria um problema. Afinal os Berkshire não eram riquinhos mimados. Quando me deparei com a grande casa senti um arrepio gelado.

O que havia de errado com aquilo tudo? Qual a razão do arrepio ou mesmo do meu pressentimento? Deveria ter falado, mas também ninguém me daria ouvidos. Enfim entramos pela porta da frente que era grande e forte. Do lado de dentro a casa estava toda mobiliada com moveis finos de mogno e marfim. Canapés negros estavam dispostos nos quatro cantos da sala. A cozinha era grande e espaçosa. Não quis ver o resto e subi direto para meu quarto enquanto minha irmã dizia:

— Ante social!

Não queria saber qual era a atividade que íamos fazer primeiro em família. Fui até o meu quarto no segundo andar. Subi as escadas de madeira que davam acesso ao segundo piso. Abri a porta que tinha um baixo relevo de um lobo cinzento. O quarto era modesto com uma cama de solteiro, um armário e uma escrivaninha. Desfiz as malas e senti que alguém me observava. Não dei atenção para isto. A sensação continuava até que olhei a minha volta e nada vi a não ser um espelho ao lado da porta.

Neste era possível ver o reflexo da janela que ficava de frente a ele acima da escrivaninha. Abri a janela que estava coberta por venezianas. A vista era bonita e notei que lá para dentro do bosque havia um lago cinzento e fúnebre. Foi aí que notei algo medonho. Fui tomado por um medo sem igual. Não era possível que uma coisa como aquela podia estar diante de meus olhos. Corri.

foto: https://stonemole.files.wordpress.com/2008/04/april_snow_windsor_great_park.jpg

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